quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Em Conversa com Thomas Bernhard

"E em Portugal, em qualquer pequeno restaurante, há obviamente pelo menos um papel branco por cima. Mas para cada cliente um novo, e aqui, na Áustria, encontram-se na toalha os macacos do nariz, secos, durante semanas. (...) lá cozinha-se com gosto e vive-se com gosto. Se eles soubessem como a Europa Central é horrorosa, provavelmente subiriam logo os preços."

Kurt Hofmann / Thomas Bernhard

Intenções

"Quanto a Balzac, era uma combinação absolutamente notável de temperamento artístico e espírito cientifico. Legou este último aos seus discípulos; o primeiro era exclusivamente seu. A diferença entre um livro como L' Assumoir de Zola e Illusions Perdues de Balzac é a diferença entre o realismo imaginativo e a realidade não imaginativa. «Todas as personagens de Balzac», disse Baudelaire, «são dotadas da mesma ânsia de viver que o animava a ele. As suas ficções são tão profundamente coloridas como sonhos. A mente de cada uma das suas criaturas é uma arma carregada de vontade até à boca. Até as serventes de cozinha têm génio.» Uma dieta regular de Balzac reduz os nossos amigos vivos a sombras, e os nossos conhecidos a sombras de sombras. As suas personagens têm um tipo de existência férvida e cor de fogo. Dominam-nos, e desafiam qualquer cepticismo. Uma das maiores tragédias da minha vida foi a morte de Lucien de Rubempré. Foi um choque de que nunca consegui libertar-me completamente."

Oscar Wilde

The First World War

    "The Second World War was, like the First, the product of great power politics. Yet it, unlike the First, has been recast as a great crusade. For the British, partly because they have been influenced by the Americans, it has now become unequivocally the 'good' war fought by what America now calls the 'greatest generation'. It has become our benchmark for 'existencial' war, the sort of war that has to be fought because it is necessary, that must be fought whatever the outcome and regardless of the cost. (...). This is an overwhelmingly retrospective judgement, and one that has grown with the telling. It is fed by the Holocaust, despite the fact that none of the powers that declared war on Germany did so to save de Jews."

Hew Strachan

A Imortalidade

"A solidão: doce ausência de olhares."

Milan Kundera

A Imortalidade

"A vocação da poesia não é deslumbrar-nos com uma ideia surpreendente, mas fazer com que um instante do ser se torne inesquecível e digno de uma insustentável nostalgia."

Milan Kundera

A Imortalidade

    "Agnès continuou o seu caminho: o ouvido direito registava a ressaca da música, dos sons ritmados de bateria, proveniente das lojas, dos salões de cabeleireiro, dos restaurantes, enquanto o ouvido esquerdo captava os sons da calçada: o ronronar uniforme dos automóveis, o roncar de um autocarro que arrancava. Depois trespassou-a um ruído estridente de uma mota. Não pôde deixar de procurar com os olhos a pessoa que lhe causava aquela dor física: uma rapariga de jeans, com longos cabelos negros flutuando ao vento, erguia-se muito direita no seu selim como diante de uma máquina de escrever; desprovido de silenciador, o motor fazia uma barulheira atroz.
     Agnès lembrou-se da desconhecida que três horas antes entrara na sauna e que, para apresentar o seu eu, para o impor aos outros, anunciara ruidosamente, ao transpor da porta, que detestava os duches quentes e a modéstia. Agnès pensou: foi a um impulso muito parecido que obedeceu o eu da rapariga de cabelo preto; essa rapariga, para se fazer ouvir, para ocupar os pensamentos de outrem, acrescentara à sua alma um estrepitoso tubo de escape. Vendo esvoaçar os longos cabelos daquela alma tumultuosa, Agnès percebeu que desejava intensamente a morte da motociclista. Se o autocarro a tivesse atropelado, se ela tivesse caído ensanguentada no asfalto, Agnès não teria experimentado nem horror nem pena, mas apenas satisfação."

Milan Kundera

A Imortalidade

" (...) há só uma coisa que todos nós desejamos, profundamente: que o mundo inteiro nos considere grandes pecadores!"

Milan Kundera