"Sucede muitas vezes que quem comete uma grosseria conserva um certo ressentimento contra a pessoa que dela foi alvo, mas o coração de Roy, sempre no seu lugar, nunca lhe permitiria tal mesquinhez, sendo capaz de tratar miseravelmente um homem sem lhe guardar depois o mais leve rancor."
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terça-feira, 2 de fevereiro de 2016
Destino de Um Homem
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Destino de Um Homem
"E, afinal, que outro sentimento a não ser a modéstia o poderia induzir, ainda hoje, a escrever aos críticos das suas obras agradecendo-lhes o elogio ou convidando-os para almoçar? Mais ainda: quando alguém escreve um artigo depreciativo e, especialmente depois de ter ganho tão vasto renome, tem de engolir algumas críticas violentas, Roy não se porta como a maioria dos colegas. Nós encolhemos os ombros ou insultamos mentalmente o cretino que não sabe dar valor à nossa obra e acabamos por esquecê-lo. Roy, não: manda logo uma carta ao crítico, mostrando-se pesaroso com o julgamento favorável de que o seu livro foi objecto, mas acrescentando que o artigo em si é interessantíssimo e evidencia até em certas passagens tão fino senso crítico e tanto apuro na escolha das palavras que se sente compelido a escrever. Ninguém mais que ele procura aperfeiçoar-se e ainda se considera capaz de aprender. Não quer ser importuno, mas, se o crítico não tiver nenhum compromisso para quinta ou sexta-feira, não poderá vir almoçar com ele no Savoy e dizer-lhe precisamente porque achou o livro tão mau? Roy é inexcedível quando se trata de escolher a ementa. Geralmente, o crítico, depois de comer meia dúzia de ostras e uma fatia de lombo de cordeiro bem tenro, já engoliu juntamente as suas críticas. Quando sai outro romance de Roy, o crítico descobre na nova obra um progresso considerável. Justiça poética, apenas."
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Destino de Um Homem
"E certamente teve uma revelação deslumbrante quando soube que Thomas Carlyle, num discurso, definira o génio como uma infinita capacidade de esforço. Roy pensou na frase. Se era apenas isso - deve ter meditado consigo próprio -, então estava em condições de também ser um génio. E quando o entusiasmado redactor de uma revista feminina, escrevendo acerca do seu último livro, empregou, enfim, aquela palavra - depois os críticos seguiram o exemplo com agradável frequência - , ele naturalmente suspirou com a satisfação de alguém que completa uma problema de palavras cruzadas depois de quebrar a cabeça durante muitas horas. Quem acompanhou através de anos e anos a sua infatigável aplicação pode confirmar que, afinal de contas, merecia ser um génio."
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Destino de Um Homem
"Quando me propus pintar o retrato de um escritor que lança mão de todos os meios possíveis de publicidade para auxiliar a difusão das suas obras, não me foi necessário fixar a atenção sobre nenhuma pessoa em particular. Estes processos são demasiados comuns, e, aliás, não podemos deixar de os olhar com simpatia. Todos os anos passam despercebidas centenas de livros, muitos deles de bastante mérito. Cada um desses livros levou meses a ser escrito e talvez o autor os tenha trazido durante anos na cabeça, pondo neles um pouco de si próprio, que se perde para sempre. E punge-nos o coração pensar nas grandes probabilidades que estes livros têm de ser esquecidos entre a acumulação de matérias impressas que sobrecarrega a mesa dos críticos e as prateleiras das livrarias. Não é de estranhar que ele empregue todos os meios ao seu alcance para chamar a atenção do público. A experiência ensina-lhe que é necessário manter-se em evidência. Deve dar entrevistas e fazer publicar o seu retrato nos jornais. É necessário escrever cartas ao Times, falar em conferências e ocupar-se com questões sociais, fazer discursos e ainda recomendar livros em anúncios de editores. E é preciso que seja visto nas ocasiões e nos lugares apropriados. Nunca deve deixar que o esqueçam. É um trabalho duro e angustioso, pois um erro pode custar-lhe caro. Seria uma injustiça pensar mal de um autor que tem tanto trabalho para convencer o mundo a ler os seus livros, que ele sinceramente julga merecerem serem lidos."
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Destino de Um Homem
"Uma personagem não escrita, uma vez na cabeça de um escritor, torna-se sua propriedade. Pensa nela constantemente e, à medida que a sua imaginação a vai enriquecendo, goza o singular prazer de sentir que ali, dentro do seu cérebro, alguém vive uma vida palpitante e variada, obediente à sua fantasia, mas dotada de uma curiosa vontade própria e independente dele. Uma vez transposta para o papel, porém, essa personagem já não pertence ao escritor. Esquece-a. É curioso que uma pessoa que durante anos ocupou os nossos devaneios possa deixar tão repentinamente de existir."
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quinta-feira, 28 de janeiro de 2016
A Lua e Cinco Tostões
"A meu ver, o aspecto mais importante da arte é a personalidade do artista; e, se essa personalidade for única, de boa vontade lhe desculpo mil e um defeitos. Suponho que Velasquez terá sido melhor pintor do que El Greco, mas o hábito banaliza a admiração que se tem por ele. o Cretense, sensual e trágico, oferece o mistério da sua alma como um sacrifício permanente. O artista, seja ele pintor, poeta ou músico, satisfaz com a sua arte, bela ou sublime, o nosso sentido estético, isso é, porém, de carácter idêntico ao do instinto sexual e partilha da sua barbaridade: o artista depõe também aos nossos pés essa oferenda grandiosa, a dádiva de si próprio. Tentar decifrar o seu mistério possui algum do fascínio de um livro policial. É um enigma que partilha com o universo o mérito de não ter resposta. A mais insignificante das obras de Strickland sugere uma personalidade estranha, atormentada e complexa. É isso, certamente, que não tem deixado que mesmo aqueles que não gostam dos seus quadros fiquem indiferentes diante deles. É por isso que tem despertado a curiosidade e o interesse pela sua vida e pelo seu carácter."
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A Lua e Cinco Tostões
"Devo confessar que, quando conheci Charles Strickland, nem por um momento fui capaz de discernir nele algo fora do comum. Porém, agora serão poucos os que negam a sua grandeza. Não me refiro à grandeza alcançada pelo político afortunado ou pelo soldado vitorioso. Essa é uma qualidade que se ajusta mais ao posto que ocupa do que ao homem em si mesmo, e uma mudança de circunstâncias pode reduzi-la a proporções muito discretas. Um ex-primeiro ministro é visto muitas vezes como tendo sido apenas um retórico pomposo, e um general sem exército não passa de um pacato herói de província. A grandeza de Charles Strickland era genuína. Podemos não gostar da sua arte, mas dificilmente poderemos recusar-lhe o tributo do nosso interesse."
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