"A solidão: doce ausência de olhares."
Milan Kundera
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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016
A Imortalidade
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O Cânone Ocidental
"Acredito muito convictamente que se formos ler o Cânone Ocidental para formar os nossos valores sociais, políticos ou pessoais, transformar-nos-emos em monstros de egoísmo e de exploração. Ler ao serviço de qualquer ideologia não é, em minha opinião, ler. A recepção do poder estético torna-nos capazes de aprender a falar com nós mesmos e a suportarmos a nós mesmos. O uso autêntico que devemos fazer de Shakespeare, ou de Cervantes, de Homero ou de Dante, de Chaucer ou de Rabelais, é aquele que nos leva a extrair o Eu mais interior de cada um. Ler o Cânone em profundidade não fará de alguém uma pessoa melhor ou pior, um cidadão mais útil ou mais nocivo. O diálogo que a mente mantém consigo mesma não é essencialmente uma realidade social. Tudo aquilo que o Cânone Ocidental pode trazer a alguém é a própria solidão desse alguém, aquela solidão cuja forma final é o confronto de cada um com a sua própria mortalidade."
Harold Bloom
Harold Bloom
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sexta-feira, 29 de janeiro de 2016
A História de Rasselas, Príncipe da Abissínia
"Talvez, falando com rigorosa exactidão, nenhum espírito humano esteja no seu perfeito estado. Não há homem cuja imaginação não predomine por vezes sobre a razão, que seja capaz de regular plenamente a sua atenção segundo a sua vontade, e cujas ideias se movam em conformidade com as suas ordens. Não se achará homem algum em cujo espírito ideias ocas não exerçam por vezes a sua tirania, forçando-o a esperar ou a temer para além dos limites da probabilidade sóbria. Todo o poder da fantasia sobre a razão é um grau de insanidade; mas enquanto esse poder for de molde a que possamos controlá-lo e reprimi-lo, não se tornará visível aos outros, nem será considerado como corrupção das faculdades mentais: só se torna loucura marcada quando se torna ingovernável, e manifestamente exerce a sua influência sobre o discurso ou a acção.
Consentir no poder da ficção e dar asas à imaginação é muitas vezes o desporto dos que se comprazem demais na especulação silenciosa. Quando estamos sós nem sempre estamos ocupados; o trabalho da meditação é demasiado violento para ser duradouro; o ardor da inquirição dará por vezes lugar à ociosidade ou à saciedade. Quem nada tenha de exterior que o posso divertir, poderá achar prazer nos seus próprios pensamentos, e poderá conceber-se tal como não é; pois quem estará satisfeito com o que é? Alargar-se-á então entregando-se a um provir sem limites e colherá entre todas as condições imagináveis aquela que mais desejaria no momento presente, afagará os seus desejos com prazeres impossíveis e concederá ao seu orgulho uma força inalcançável. O espírito passa de um quadro para outro, reúne todos os prazeres em todas as combinações e excede-se em delícias que a natureza e a fortuna, apesar de toda a sua abundância, não podem outorgar.
Com o tempo as ideias de uma feição particular fixam a atenção, todas as outras satisfações intelectuais são rejeitadas, o espírito, fatigado ou ocioso, busca continuamente a sua concepção favorita, e deleita-se com o luxo da falsidade sempre que a amargura da verdade o ofende. O reino da fantasia confirma-se passo a passo; torna-se de começo imperioso, e com o tempo, despótico. As ficções começam então a operar como realidades, as opiniões falsas instalam-se no espírito e a vida decorre em sonhos de arrebatamento ou de aflição.
Tal é, Senhor, um dos perigos da solidão, a qual, como o eremita confessou, nem sempre alimenta a bondade, e, como o provou a desgraça do astrónomo, nem sempre é propícia à sabedoria."
Samuel Johnson
Consentir no poder da ficção e dar asas à imaginação é muitas vezes o desporto dos que se comprazem demais na especulação silenciosa. Quando estamos sós nem sempre estamos ocupados; o trabalho da meditação é demasiado violento para ser duradouro; o ardor da inquirição dará por vezes lugar à ociosidade ou à saciedade. Quem nada tenha de exterior que o posso divertir, poderá achar prazer nos seus próprios pensamentos, e poderá conceber-se tal como não é; pois quem estará satisfeito com o que é? Alargar-se-á então entregando-se a um provir sem limites e colherá entre todas as condições imagináveis aquela que mais desejaria no momento presente, afagará os seus desejos com prazeres impossíveis e concederá ao seu orgulho uma força inalcançável. O espírito passa de um quadro para outro, reúne todos os prazeres em todas as combinações e excede-se em delícias que a natureza e a fortuna, apesar de toda a sua abundância, não podem outorgar.
Com o tempo as ideias de uma feição particular fixam a atenção, todas as outras satisfações intelectuais são rejeitadas, o espírito, fatigado ou ocioso, busca continuamente a sua concepção favorita, e deleita-se com o luxo da falsidade sempre que a amargura da verdade o ofende. O reino da fantasia confirma-se passo a passo; torna-se de começo imperioso, e com o tempo, despótico. As ficções começam então a operar como realidades, as opiniões falsas instalam-se no espírito e a vida decorre em sonhos de arrebatamento ou de aflição.
Tal é, Senhor, um dos perigos da solidão, a qual, como o eremita confessou, nem sempre alimenta a bondade, e, como o provou a desgraça do astrónomo, nem sempre é propícia à sabedoria."
Samuel Johnson
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