"Num mercado de Moscovo, havia uma banca onde um inválido vendia toda a espécie de bugigangas. Este homem estava preparado para conseguir, mediante certo preço, que qualquer jovem desejoso de se inscrever na universidade fosse admitido em qualquer faculdade... (Devido à dificuldade em ingressar na universidade), este veterano deficiente, que dispunha de poderes mágicos para conseguir a admissão, fazia uma fortuna à custa de pais desvairados, trémulos de ansiedade, que lhe metiam nas mãos a quantia pedida. O veterano seguia os princípios mais escrupulosos e avisava sempre os seus clientes que não era omnipotente, que, naturalmente, faria tudo o que estivesse ao seu alcance, mas não podia garantir o sucesso: se a filha ou o filho deles não conseguisse ser admitido, ele prometia devolver o dinheiro. E, de facto, sempre que falhava, os pais recebiam o dinheiro. Mas o homem era bem-sucedido com uma certa frequência, e deste modo conseguia uma vasta clientela disposta a pagar.
E o que fazia ele por isso? Nada! Não fazia absolutamente nada, não procurava ninguém, nem falava com ninguém; não tinha contactos com nenhuma faculdade, nem com directores de faculdades. Mas ganhava bem e partia do seguinte pressuposto: se os pais estavam tão desejosos de que os seus filhos estudassem, não confiariam exclusivamente no seu apoio e explorariam outros canais, possivelmente para conseguirem, com um presente adequado, outro ajudante bem colocado. E um deles havia de conseguir alguma coisa - qual, eles nunca viriam a saber. Em segundo lugar, seria concebível que o jovem, movido pela ambição, se preparasse cuidadosamente para o exame (de admissão) e que, apesar de todas as dificuldades, transpusesse o obstáculo. E se tudo isso falhasse, ele devolveria o dinheiro*.
*Andrej Sinjawskij, Der Traum vom neuer Menschen oder die So-wjetzivilisation."
Richard Pipes
Sem comentários:
Enviar um comentário