terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Destino de Um Homem

"E, afinal, que outro sentimento a não ser a modéstia o poderia induzir, ainda hoje, a escrever aos críticos das suas obras agradecendo-lhes o elogio ou convidando-os para almoçar? Mais ainda: quando alguém escreve um artigo depreciativo e, especialmente depois de ter ganho tão vasto renome, tem de engolir algumas críticas violentas, Roy não se porta como a maioria dos colegas. Nós encolhemos os ombros ou insultamos mentalmente o cretino que não sabe dar valor à nossa obra e acabamos por esquecê-lo. Roy, não: manda logo uma carta ao crítico, mostrando-se pesaroso com o julgamento favorável de que o seu livro foi objecto, mas acrescentando que o artigo em si é interessantíssimo e evidencia até em certas passagens tão fino senso crítico e tanto apuro na escolha das palavras que se sente compelido a escrever. Ninguém mais que ele procura aperfeiçoar-se e ainda se considera capaz de aprender. Não quer ser importuno, mas, se o crítico não tiver nenhum compromisso para quinta ou sexta-feira, não poderá vir almoçar com ele no Savoy e dizer-lhe precisamente porque achou o livro tão mau? Roy é inexcedível quando se trata de escolher a ementa. Geralmente, o crítico, depois de comer meia dúzia de ostras e uma fatia de lombo de cordeiro bem tenro, já engoliu juntamente as suas críticas. Quando sai outro romance de Roy, o crítico descobre na nova obra um progresso considerável. Justiça poética, apenas."

Somerset Maugham

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