terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Destino de Um Homem

"Quando me propus pintar o retrato de um escritor que lança mão de todos os meios possíveis de publicidade para auxiliar a difusão das suas obras, não me foi necessário fixar a atenção sobre nenhuma pessoa em particular. Estes processos são demasiados comuns, e, aliás, não podemos deixar de os olhar com simpatia. Todos os anos passam despercebidas centenas de livros, muitos deles de bastante mérito. Cada um desses livros levou meses a ser escrito e talvez o autor os tenha trazido durante anos na cabeça, pondo neles um pouco de si próprio, que se perde para sempre. E punge-nos o coração pensar nas grandes probabilidades que estes livros têm de ser esquecidos entre a acumulação de matérias impressas que sobrecarrega a mesa dos críticos e as prateleiras das livrarias. Não é de estranhar que ele empregue todos os meios ao seu alcance para chamar a atenção do público. A experiência ensina-lhe que é necessário manter-se em evidência. Deve dar entrevistas e fazer publicar o seu retrato nos jornais. É necessário escrever cartas ao Times, falar em conferências e ocupar-se com questões sociais, fazer discursos e ainda recomendar livros em anúncios de editores. E é preciso que seja visto nas ocasiões e nos lugares apropriados. Nunca deve deixar que o esqueçam. É um trabalho duro e angustioso, pois um erro pode custar-lhe caro. Seria uma injustiça pensar mal de um autor que tem tanto trabalho para convencer o mundo a ler os seus livros, que ele sinceramente julga merecerem serem lidos."

Somerset Maugham

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