Os portugueses comportam-se como um povo que teve mãe, mas é órfão de pai, o que historicamente até se poderia explicar de uma maneira positivista pela emigração massiva dos chefes de família durante a maior parte do tempo na nossa história. E esta explicação poderia ter desenvolvimentos psicanalíticos.
Mas preferimos a outra hipótese, que aliás não exclui a anterior. O «pai» da gente portuguesa era representado pela «Espanha», no antigo significado de pátria comum a todos os povos ibéricos; dela nos vinham os padrões de civilização ao nível intelectual. A «mãe» era a região onde se falava o galego-português, ninho dos valores afectivos. Desde que Portugal rejeitou a paternidade hispânica, a família ficou precocemente amputada.
(...)
Há algo de inacabado e até de amputado na nossa cultura, uma espécie de infância para além do termo, cujo mais recente exemplo é o pós-25 de Abril. E foi isso, talvez, que nos levou a procurar outro «pai» além-Pirinéus, que é desde o século XVIII a França."
António José Saraiva
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