"Até mesmo aqui sou levado a defender Alceste, dos críticos moralistas, os quais o associam a Dom Juan porque tanto Alceste como o Dom se intitulam a si mesmos juízes absolutos em todos os domínios, incluindo o erótico. Por vezes desconfio que os críticos modernos de Molière o misturam com Racine, o que é tão estranho quanto seria fundir Montaigne com Pascal. É assim que Martin Turnell, em O Momento Clássico, assimila Molière à sua época, que se transforma na época de Racine, e logo depois O Misantropo aparece como uma peça cujo protagonista se encontra num estado de histeria permanente. Escutamos o derradeiro abaixamento de nível da crítica moralista quando Turnell resmunga que «é em vão que desejamos que a ordem seja restabelecida, e que um bufão corrigido seja trazido de volta à norma do equilíbrio mental». Mas «que norma»?, explodiria Alceste, e qualquer espectador no seu perfeito juízo seria obrigado a concordar com ele. A grandeza de O Misantropo desapareceria completamente se a sociedade fosse mentalmente equilibrada e se só Alceste fosse mentalmente perturbado.»
Harold Bloom
Sem comentários:
Enviar um comentário