sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Humano, Demasiado Humano

"A arte é perigosa para o artista. Quando a arte se apodera violentamente de um indivíduo, puxa-o, então, para trás, para concepções próprias daqueles tempos, em que a arte florescia com mais vigor. Tem, pois, um efeito involutivo. O artista entra cada vez mais na veneração pelas súbitas excitações, acredita em deuses e demónios, enche a Natureza de espíritos, odeia a ciência, torna-se variável nos seus humores, tal como os homens da Antiguidade, e deseja a eliminação de todas as condições que não sejam favoráveis à arte, e isto, na verdade, com a veemência e a injustiça de uma criança. Em si, o artista é já um ser atrasado, porque se fica pela brincadeira, que faz parte da mocidade e da infância: a isso junta-se ainda o facto de ele ser paulatinamente retrotraído para outros tempos. Acaba, assim, por surgir um violento antagonismo entre ele e as pessoas da mesma idade da sua época, e um fim triste; tal como, segundo as narrativas dos antigos, Homero e Ésquilo acabaram por viver e morrer na melancolia."

Friedrich Nietzsche

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